Rio de
Janeiro, Fevereiro de 2001.
Anthony já não era o
mesmo, era como um espectro do que fora, sentia a ausência de Alice como a de
um braço ou perna amputados, só que no caso dele era ainda pior, não era só a
dor física que a ausência dela causava, por dentro ele estava destruído, tudo o
que era luz nele se extinguira e tudo que restara era um grande buraco negro
que sugava toda a possibilidade de felicidade que lhe restava.
Ele tentava ser feliz,
pelo menos nos primeiros meses tentara, pois ele sabia que onde quer que sua
linda e decidida Alice estivesse ela gostaria de vê-lo feliz, ela era assim,
como uma leoa defendendo aqueles que gostava, ela fazia de tudo para vê-los
sorrir, algumas vezes até mascarava a própria dor, fingindo uma alegria que não
sentia. Era excepcional.
Anthony não podia
entender como ela, justo ela, teve que partir tão cedo, deixando-o sozinho em
meio a escuridão quando prometera estar com ele por muito tempo, envelhecer com
ele até terem que comer só sopa por não terem mais dentes.
A única coisa que lhe
restara era o trabalho, e ele se jogava nele com toda sua energia. Seus
familiares e amigos tentaram de varias formas resgata-lo dessa melancolia que o
envolvia como um escudo forte, doloroso e denso. Mas eles não sabiam que o que
eles viam era somente a ponta do Iceberg, se eles soubessem o que ele sentia,
todas as vezes que chegava em casa, e inconscientemente esperava por ela,
nessas horas o vazio era terrível, todas as lembranças o invadia como tiros de
metralhadora, rasgando-o em todas as direções possíveis.
A vida já não tinha
sentido, viver para trabalho não é
realmente viver, ele não sabia o que era alegria desde o fatídico dia, o dia em
que ele perdera tudo...
Mas as coisas chegaram
realmente ao ápice no dia em que faria um ano que eles se conheceram, fora tudo
tão rápido...Tão intenso, tão perfeito...É como dizem, “tudo que é bom dura pouco, e não acaba cedo”. O que o consolava era
o fato de saber que ele havia feito tudo, havia amado-a com todas as suas
forças, aproveitado cada segundo na presença dela, havia se deleitado até mesmo
das brigas e dos tapas ardidos que ela lhe dava quando ficava enfezada. Ele
tivera tudo o que muita gente não teria, nem sentiria, em uma vida inteira, em
menos de um ano, regozijava-se disso, e exatamente por isso a vida não tinha
mais sentido para ele.
Em algum momento
Anthony simplesmente pirou, desistiu de tudo e mergulhou na nostalgia, ele
vivia de lembranças, revia as fotos, os vídeos caseiros deles no parque, do
casamento, e revivia tudo revivendo as sensações com o ímpeto de quem se agarra
a uma corda sob um precipício para sobreviver. Ele havia tomado uma decisão,
ele não deixaria a lembrança dela morrer em sua memoria, não permitiria que
cheiro do perfume dela o abandonasse, não deixaria que aquilo que lhe restara
lhe fosse tirado, pois no fim, quando tudo estiver findado, a única coisa que
resta é a memoria.
E foi assim que ele
mergulhou em sua própria mente, esquecendo-se do presente e do futuro, vivendo
do passado.
Não demorou muito para
que seus familiares o internassem em uma clinica para que fosse tratado contra
o que eles pensavam ser “trauma” ou alguma coisa do tipo, eles simplesmente não
entendiam que fora escolha dele renunciar-se de si mesmo. E nem poderiam.
Os psiquiatras tentavam
vários remédios e formas de faze-lo “voltar ao normal”, mas ele resistia com
todas as suas forças, ele negava-se a qualquer coisa que pudesse afasta-lo da
memoria dela. Quando seus parentes iam visita-lo ele esforçava-se por parecer
contente em vê-los, e até conversava, mas era só, assim que eles desapareciam
pela soleira da porta ele voltava ao seu estado costumeiro de letargia.
São Paulo,
Dezembro de 2011
Anthony sentia no fundo
de sua alma que sua tormenta e provação logo se findariam, já não restava muito
tempo agora, ao menos não nessa vida. Por isso ele sorrindo resgatou as
memorias mais felizes da sua vida, como um filme, em que os flashes eram todas
as vezes em que se sentira plenamente feliz, desde o momento em que se entendia
por gente, até o ultimo momento feliz que tivera com Alice, sua alma gêmea,
pois era isso que ela era, era a única explicação. Suas almas se reconheceram
no momento em que se reencontraram, numa atração de corpos irresistível que os
sugara. Ele não lamentava nada que fizera, somente o fato de ter que permanecer
por tanto tempo nessa vida, que era tão cinza, sem ela, pois após conhecer a
felicidade que era viver ao lado dela, ele não poderia e nem iria se contentar
com menos.
Então, com um suspiro e
um sorriso nos lábios, ele partiu, em sua retina estavam refletidos os olhos de
Alice no momento em que a beijara pela primeira vez. Em uma época que parecia
tão distante e ao mesmo tão próxima, o beijo que começara tudo e lhe abrira um
mundo totalmente novo ao lado dela.
Seu último pensamento
foi a certeza que tinha entranhada em seu ser de que a encontraria de novo, em uma nova vida, em um
novo tempo, pois algumas tatuagens são feitas na alma, e as tatuagens de amor
são assim.
Fim :)
Espero que tenham gostado, se alguém quiser fazer criticas construtivas que sinta-se á vontade. Eu sinceramente não gosto muito de coisas melosas, mas o conto fluiu assim, me fazendo conhecer uma parte de mim que eu nem mesmo conhecia, agradeço todos aqueles que leram o conto todo, pois ficou meio grande.
Nenhum comentário:
Postar um comentário