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domingo, 9 de outubro de 2011

Tatuagens do amor (Parte Final)


Rio de Janeiro, Fevereiro de 2001.

Anthony já não era o mesmo, era como um espectro do que fora, sentia a ausência de Alice como a de um braço ou perna amputados, só que no caso dele era ainda pior, não era só a dor física que a ausência dela causava, por dentro ele estava destruído, tudo o que era luz nele se extinguira e tudo que restara era um grande buraco negro que sugava toda a possibilidade de felicidade que lhe restava.
Ele tentava ser feliz, pelo menos nos primeiros meses tentara, pois ele sabia que onde quer que sua linda e decidida Alice estivesse ela gostaria de vê-lo feliz, ela era assim, como uma leoa defendendo aqueles que gostava, ela fazia de tudo para vê-los sorrir, algumas vezes até mascarava a própria dor, fingindo uma alegria que não sentia. Era excepcional.
Anthony não podia entender como ela, justo ela, teve que partir tão cedo, deixando-o sozinho em meio a escuridão quando prometera estar com ele por muito tempo, envelhecer com ele até terem que comer só sopa por não terem mais dentes.
A única coisa que lhe restara era o trabalho, e ele se jogava nele com toda sua energia. Seus familiares e amigos tentaram de varias formas resgata-lo dessa melancolia que o envolvia como um escudo forte, doloroso e denso. Mas eles não sabiam que o que eles viam era somente a ponta do Iceberg, se eles soubessem o que ele sentia, todas as vezes que chegava em casa, e inconscientemente esperava por ela, nessas horas o vazio era terrível, todas as lembranças o invadia como tiros de metralhadora, rasgando-o em todas as direções possíveis.
A vida já não tinha sentido, viver para  trabalho não é realmente viver, ele não sabia o que era alegria desde o fatídico dia, o dia em que ele perdera tudo...


 

Mas as coisas chegaram realmente ao ápice no dia em que faria um ano que eles se conheceram, fora tudo tão rápido...Tão intenso, tão perfeito...É como dizem, “tudo que é bom dura pouco, e não acaba cedo”. O que o consolava era o fato de saber que ele havia feito tudo, havia amado-a com todas as suas forças, aproveitado cada segundo na presença dela, havia se deleitado até mesmo das brigas e dos tapas ardidos que ela lhe dava quando ficava enfezada. Ele tivera tudo o que muita gente não teria, nem sentiria, em uma vida inteira, em menos de um ano, regozijava-se disso, e exatamente por isso a vida não tinha mais sentido para ele.
Em algum momento Anthony simplesmente pirou, desistiu de tudo e mergulhou na nostalgia, ele vivia de lembranças, revia as fotos, os vídeos caseiros deles no parque, do casamento, e revivia tudo revivendo as sensações com o ímpeto de quem se agarra a uma corda sob um precipício para sobreviver. Ele havia tomado uma decisão, ele não deixaria a lembrança dela morrer em sua memoria, não permitiria que cheiro do perfume dela o abandonasse, não deixaria que aquilo que lhe restara lhe fosse tirado, pois no fim, quando tudo estiver findado, a única coisa que resta é a memoria.
E foi assim que ele mergulhou em sua própria mente, esquecendo-se do presente e do futuro, vivendo do passado.
Não demorou muito para que seus familiares o internassem em uma clinica para que fosse tratado contra o que eles pensavam ser “trauma” ou alguma coisa do tipo, eles simplesmente não entendiam que fora escolha dele renunciar-se de si mesmo. E nem poderiam.
Os psiquiatras tentavam vários remédios e formas de faze-lo “voltar ao normal”, mas ele resistia com todas as suas forças, ele negava-se a qualquer coisa que pudesse afasta-lo da memoria dela. Quando seus parentes iam visita-lo ele esforçava-se por parecer contente em vê-los, e até conversava, mas era só, assim que eles desapareciam pela soleira da porta ele voltava ao seu estado costumeiro de letargia.

São Paulo, Dezembro de 2011

Anthony sentia no fundo de sua alma que sua tormenta e provação logo se findariam, já não restava muito tempo agora, ao menos não nessa vida. Por isso ele sorrindo resgatou as memorias mais felizes da sua vida, como um filme, em que os flashes eram todas as vezes em que se sentira plenamente feliz, desde o momento em que se entendia por gente, até o ultimo momento feliz que tivera com Alice, sua alma gêmea, pois era isso que ela era, era a única explicação. Suas almas se reconheceram no momento em que se reencontraram, numa atração de corpos irresistível que os sugara. Ele não lamentava nada que fizera, somente o fato de ter que permanecer por tanto tempo nessa vida, que era tão cinza, sem ela, pois após conhecer a felicidade que era viver ao lado dela, ele não poderia e nem iria se contentar com menos.
Então, com um suspiro e um sorriso nos lábios, ele partiu, em sua retina estavam refletidos os olhos de Alice no momento em que a beijara pela primeira vez. Em uma época que parecia tão distante e ao mesmo tão próxima, o beijo que começara tudo e lhe abrira um mundo totalmente novo ao lado dela.
Seu último pensamento foi a certeza que tinha entranhada em seu ser de que a encontraria de novo, em uma nova vida, em um novo tempo, pois algumas tatuagens são feitas na alma, e as tatuagens de amor são assim.





Fim :)


Espero que tenham gostado, se alguém quiser fazer criticas construtivas que sinta-se á vontade. Eu sinceramente não gosto muito de coisas melosas, mas o conto fluiu assim, me fazendo conhecer uma parte de mim que eu nem mesmo conhecia, agradeço todos aqueles que leram o conto todo, pois ficou meio grande.



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